sábado, março 17, 2007

O Brasão de Coimbra


Inicio hoje a minha colaboração neste blogue que tem como tema a cidade onde nasci, cresci, estudei, me licenciei e onde presentemente resido e trabalho.
É difícil escrever sobre algo de que se gosta muito, pois o povo, na sua imensa sabedoria, costuma dizer que "Quem feio ama, bonito lhe parece". Não me parece, de todo, ser esse o caso de Coimbra que é reconhecidamente um das mais bonitas cidades que conheço e são muitas.
Começo pois pelas Armas da nossa Lusa-Atenas.
O Brasão da nossa cidade representa uma mulher jovem coroada, como que a sair de um cálice, tendo do lado direito um leão de ouro e do lado esquerdo um dragão verde (no original).
Quando se pergunta à maioria dos conimbricenses quem é a donzela representada, não anda longe dos 100% as repostas afirmando tratar-se da Rainha Santa Isabel, Padroeira da cidade de Coimbra. Tal, porém, não corresponde à verdade.
Segundo uma lenda contada por Frei Bernardo de Brito, o emblema da cidade teria a seguinte explicação:
O rei bárbaro dos Alanos, Ataces, que usava na bandeira um leão dourado, veio, com o seu exército, e destruiu a cidade de Conímbriga, governada por Hermenerico, rei dos Suevos, que tinha como emblema a serpente verde. Depois disso, resolveu construir uma nova cidade nas margens do Mondego, a actual Coimbra. Hermenerico decidiu vingar-se e veio dar luta a Ataces, mas foi novamente vencido e, para obter a paz, consentiu no casamento da sua filha, a Princesa Cindazunda, com o antigo inimigo, Ataces. A história acaba assim com um casamento feliz, tendo Ataces oferecido à cidade nascente o brasão que ainda hoje se mantém.
O Brasão apresenta então, no meio a Princesa Cindazunda, o cálice simboliza o casamento, o leão dourado, o rei Ataces e o dragão verde, o rei Hermenerico.

As actuais armas da Cidade de Coimbra estão definidas pela Portaria nº 6959, de 14 de Novembro de 1930, que diz textualmente:
"Tendo em vista o parecer da Secção Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugueses e atendendo ao que representou a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Coimbra: manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Interior, que a constituição heráldica das armas daquele município seja a seguinte: "De vermelho com uma taça de ouro realçada de púrpura, acompanhada de uma serpe alada e um leão batalhantes, ambos de ouro e lampassados de púrpura. Em chefe um busto de mulher, coroada de ouro, vestida de púrpura e com manto de prata, acompanhada por dois escudetes antigos das quinas. Colar da Torre e Espada. Bandeira com um metro quadrado, quarteada de amarelo e de púrpura. Listel branco com letras pretas. Lança e haste de ouro."

Duas curiosidades à laia de conclusão
1ª- Na fachada da Câmara Municipal de Coimbra (2ª imagem) é possível ver o brasão com a particularidade de este se encontrar invertido, o leão à esquerda (simbolizando o rei Ataces) e o dragão à direita (simbolizando o rei Hermenerico). Talvez seja por ter sido esculpido em Lisboa. 2ª - Com um brasão tão bonito, para quê gastar tanto dinheiro para arranjar outro símbolo, para determinados serviços camarários, que, como sabemos, depois de estudos apurados e de muito dinheiro dos contribuintes gasto, resultou numa circunferência cortada, que hoje se vê por aí nos autocarros dos serviços municipalizados e em tudo o que é documento camarário.

A imagem com o brasão foi retirada do site:

quarta-feira, março 14, 2007

Recordações

Voltemos atrás no tempo...

Tinha eu à volta de 6/7 anos. São recordações difusas, pedaços de momentos...
O meu pai tinha acabado o curso á pouco tempo, decidiu ir à Queima das Fitas e levou-me com ele. Foi a primeira vez que fui a esse evento.
O recinto da Queima não era onde é hoje: situava-se no Parque Manuel Braga, ficando a zona dos concertos onde é hoje o Parque Verde do Mondego e onde era um simples parque de estacionamento.
Era a noite dos Xutos e Pontapés, que já nessa altura brindavam os estudantes de Coimbra com as suas actuações. Lembro-me de os ouvir tocar de longe (não me lembro da música, nem tenho uma pequena ideia), de ver um oceano de gente e de ficar maravilhada: nunca tinha visto nada assim!
O meu pai levou-me para a zona das barracas, onde era e é o Parque Manuel Braga. Eram barraquinhas pequenas, cada uma com a sua bebida e com a sua música, resultando numa mistura tal de sons que não se percebia que músicas eram. Lembro-me de ver imensa gente vestida de preto e branco, a rir, com copos na mão, sentadas na relva, com copos na mão, deitadas em cima de uma capa... Lembro-me de estarem a fazer um "comboio" e de o meu pai se juntar e me levar com ele... Lembro-me de me darem um tubo fosfurescente e de ser a coisa mais linda que eu já tinha visto até hoje... Lembro-me de ficar triste quando a fosfurescência desapareceu.

Tinha 6/7 anos. Apenas fragmentos de uma noite que durou eternidades...

terça-feira, março 06, 2007

Hospital dos Lázaros

Durante a Idade Média, D. Sancho I deixou em testemunho dez mil morabitinos para a fundação dum hospital para acolher os doentes leprosos. Era, desta forma, fundado em Coimbra o Hospital-Gafaria de São Lázaro.
O Hospital, situado próximo da antiga Porta de Santa Margarida - entre a Rua da Figueira da Foz e a Av. Fernão de Magalhães (onde ainda se vê em ruínas) – sobreviveu à Carta Régia de 22 de Outubro de 1508 de D. Manuel I que extinguiu vários hospitais de Coimbra (por estarem desactualizados, serem pequenos e terem administrações indisciplinadas). E em 1774, o Marquês de Pombal, no âmbito da Reforma da Universidade, determinou que ele fosse administrado pela Universidade.
Já em 1836, o Hospital de São Lázaro foi transferido para o Colégio de S. José dos Marianos (actual Hospital Militar). Mas esta não seria a última mudança. Em 1851, os doentes leprosos que estavam naquele local, transitaram para o Colégio de S. Jerónimo e, em 1853, para o Colégio das Ordens Militares, conhecido depois por Hospital dos Lázaros ou do Castelo (local onde esteve localizado o castelo medieval de Coimbra).
Os Hospitais da Universidade de Coimbra iniciaram a sua existência conjunta no ano de 1870, altura em que passaram ocupavam 3 edifícios da Alta da cidade: São Jerónimo, Colégio das Artes e Castelo ou Lázaros, tendo este último mantido sempre a sua vocação de “ala” de doenças infecto-contagiosas.
A longa história do Hospital dos Lázaros termina em 1961, altura em que foi destruído para a construção da cidade universitária, nascendo no seu lugar a Faculdade de Matemática. Do edifício do Colégio e da sua vedação em ferro forjado, resta apenas um enorme portão, hoje visível no Hospital velho, em Celas.

Quem quiser recordar o tratamento dos leprosos em Coimbra, pode também participar na Feira dos Lázaros, reposta pelo Grupo Folclórico da Casa do Pessoal da Universidade de Coimbra em 1991, no Largo D. Dinis. Em 1996, o Grupo Folclórico de Coimbra recuperou também uma tradição que remonta à década de 40, altura em que a feira viria a ser organizada no Bairro de Celas, pelos moradores que tinham sido desalojados da Alta.
A tradição nasceu porque o penúltimo Domingo antes da Páscoa, que a Igreja dedica a recordar a ressurreição de Lázaro, a população conimbricense acorria em massa a visitar os doentes deste hospital popularmente designado por Lázaros. No largo fronteiro ao hospital, juntavam-se vendedores de diversos produtos que os visitantes adquiriam para oferecer aos doentes ou levar para suas casa. Ali se fazia a venda de doces e brinquedos. O produto mais característico era constituído pelas galinhas feitas com massa de pão e enfeitadas com penas que acabaram mesmo por ser designadas por Lázaros.